Uma
amiga, Carmen Marina, que possui um blog muito interessante, http://carmenmarinasande.blogspot.com,
enviou-me um texto excelente, atribuído ao Frei Beto, o qual posto
abaixo, e que serve para uma reflexão em torno dos valores que estamos vivendo
hoje em dia. Se entendermos e conseguirmos nos livrar de alguns paradigmas
(modelos), supérfluos, que a vida moderna tenta nos impor, conseguiremos
melhorar nossa administração pessoal, tanto espiritual quanto materialmente e,
assim, aprimorar nossa qualidade de vida.
Apenas Observando
Frei Beto
Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges
do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos,
recolhidos e em paz nos seus mantos cor de açafrão.
Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de
São Paulo: a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares,
preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já
haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia outro
café, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir: "Qual dos dois
modelos produz felicidade?”.
Estamos construindo super-homens e super mulheres,
totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados. Uma progressista
cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia
de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! Não
tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação
à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: "Como
estava o defunto?".
- "Olha, uma maravilha, não tinha uma
celulite!"
A publicidade não consegue vender felicidade, então
passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: "Se
tomar este refrigerante, vestir este tênis, usar esta camisa, comprar este
carro, você chega lá!" O grande desafio é começar a ver o quanto é bom ser
livre de todo o condicionamento.
Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno.
Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje,
constrói-se um Shopping Center. É curioso: a maioria dos Shoppings-Centers têm
linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de
qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingo. E ali dentro
sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira
pelas calçadas...
Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano
pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários
nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados
por belas sacerdotisas.
Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus.
Quem deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial,
sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no
inferno...
Felizmente, terminam todos na eucaristia
pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do
Mc Donald...
Costumo advertir os balconistas que me cercam à
porta das lojas: "Estou apenas fazendo um passeio socrático". Diante
de seus olhares espantados, explico: "Sócrates, filósofo grego, também
gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando
vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: “Estou apenas observando
quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz!”
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